Artista independente — entrevista com Tiago Trotta

O blog Música e Vinho apresenta mais um artista independente, Tiago Trotta. Na entrevista, conhecemos um pouco mais sobre a sua carreira, o processo de composição e as suas experiências como músico independente. São contribuições importantes para compreendermos um pouco mais sobre a trajetória de artistas de pequenas cidades, que mostram o seu trabalho longe dos grandes centros.

Fica evidente a importância da internet e das plataformas de música quando se é artista independente. Trotta contou um pouco também sobre como é colocar a mão na massa e fazer parte não só da composição e execução das músicas, mas de todo o processo de gravação e edição. Quer saber tudo? Continue a leitura e confira!

Como sua carreira na música começou?

Eu não sei se posso dizer que começou de uma vez e nem que houve um momento claro em que eu decidi ser músico. Em 2019 eu resolvi aprender um pouco sobre gravação e mixagem e finalmente gravei meu primeiro EP, Day of The Decade (lançado pela Rapadura Records em todas as plataformas digitais no dia 31 de dezembro), mas acho que minha carreira já tinha começado antes disso.

Sempre gostei de música, toco violão há alguns anos, mas por muito tempo eu nem pensava em ter uma carreira na música, mesmo quando eu montei a minha primeira banda e comecei a compor. Acho que eu não pensava era no futuro mesmo. Entrei em um curso de computação e por algum tempo consegui manter a cabeça ocupada o suficiente para continuar não pensando no futuro, mas chegou algum dia em que não deu mais e eu comecei a enxergar que não tinha outra carreira para mim que não fosse a de músico.

Com certeza, devo muito por essa epifania  às pessoas novas que conheci na faculdade e aos vários show que fiz no Grooves Bar, aqui em São João Del Rei, principalmente com a minha banda Brígida Galáxia, que foram experiências muito marcantes.

Quais são suas principais referências musicais?

Eu sempre gostei muito de rock, mas hoje em dia me considero um ouvinte bastante eclético, então minhas influências variam demais. Neil Young foi quem me fez querer compor quando eu era adolescente e até hoje é um dos meus artistas favoritos.

Depois eu descobri o Tatsuro Yamashita, que foi quem abriu minha cabeça para gostar de música pop (e perceber que não tem nada de errado nisso). O movimento tropicalista trouxe a minha cabeça de volta pro Brasil, recentemente, e me fez enxergar muita música que até então eu não dava muita bola.

Não posso esquecer, claro, do jazz, que eu descobri já na faculdade, escutando Miles Davis, e mudou totalmente meu mundo, abrindo caminho depois para o fusion, e que hoje em dia influencia demais a maneira como eu toco e componho. Dá pra ver que eu não escuto muito coisa atual e eu realmente acho que preciso melhorar nesse aspecto, mas vou tentando descobrir algo novo todo dia.

O que é ser artista independente no Brasil?

Primeiramente, colocar a mão na massa. Quase tudo acaba tendo que ser feito pelo próprio artista, ainda mais pra quem ainda é pequeno. Por um lado, isso é bom, porque permite que o artista tenha mais controle e domínio de seu próprio trabalho e da sua própria carreira, mas por outro, todo tipo de responsabilidade de todas as áreas vai se acumulando e se empilhando e pode acabar sendo sufocante.

Entra então, também, saber quando pedir ajuda. É importante ter pessoas com quem contar quando você precisar de alguma coisa e, dessa forma, eu acho que precisamos apoiar e ajudar outros artistas também, mesmo que seja só comprando uma camisa ou assistindo uma live. Mas o principal, com certeza, é tocar sempre, o tempo todo, e se comprometer a entregar música de qualidade, porque um músico só vai conseguir alcançar público tocando e, se a música for boa, o público vai querer ficar.

Por fim, lembrar que hoje em dia a indústria da música é fragmentada, as grandes gravadoras não têm mais o poder que tinham nas décadas passadas, o que torna menos difícil (mas não fácil) para um artista independente construir seu público com persistência e dedicação.

Você sente alguma diferença na receptividade de músicas autorais e covers?

Pela minha experiência, tocando na minha cidade, percebo que algumas vezes tem diferença sim. Quando você está num bar de rock, por exemplo, tocando com uma banda e intercalando covers com autorais, dá para notar que o público responde mais aos covers, se junta pra ver a música, canta junto e tudo mais e é uma experiência incrível, mas quando chega a hora da autoral que só a banda conhece, o público esfria e até se dispersa. Isso acontece não necessariamente porque aquela música autoral é ruim, mas sim porque o público está ali no bar para se divertir e escutar as músicas que gosta e não necessariamente conhece ou se interessa pelas composições da sua banda.

Mas isso não significa que você não deva tocar as suas autorais, porque não existe forma melhor de apresentar o seu trabalho a gente que possa se interessar e já aconteceu bastante comigo de alguém acabar curtindo o som e vindo elogiar ou comentar depois. Quando o show já tem a premissa de ser todo autoral, já é outro cenário: mesmo que apareça menos gente e ninguém saiba cantar as suas músicas, é uma sentimento muito bom ver que o público está curtindo e se divertindo e se alguém souber cantar é uma sensação que não dá nem para descrever.

O que esperar para seus trabalhos futuros?

Neste exato momento, estou trabalhando no lançamento do meu novo single, Such a Beach, que vai sair no dia 24 de outubro (de 2020). É uma música bem diferente do que eu fiz no Day of The Decade, seguindo uma direção um pouco mais pop, mas na minha opinião ainda é bastante alternativa e uma música que eu gosto muito e que foi divertida de fazer. Apesar das diferenças, segui a mesma linha de produção do EP, gravando tudo em casa, bem DIY, só que agora com um equipamento melhor, então posso dizer que a qualidade melhorou bastante.

Depois do lançamento desse novo single, pretendo voltar meu trabalho mais pra minha banda Brígida Galáxia e começar a trabalhar no nosso primeiro álbum, que a gente estava planejando desde o ano passado, mas acabamos não conseguindo gravar por causa da pandemia. Para o ano que vem, estou planejando juntar uma banda para finalmente poder fazer show tocando minhas músicas solo, além de começar a trabalhar em mais material novo, então vai vir muita coisa interessante!

Claro que, depois de conhecermos mais sobre o Tiago Trotta, queremos ouvir um pouco da sua música. Abaixo, a faixa “Living in the Moment”. Você pode ouvir mais desse artista independente no Spotify e em seu canal no YouTube. Quer mandar uma banda ou artista autoral para o Música e Vinho? Envie pela página de contato.

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